As vezes
acordo com saudade, que não sei bem do que. Ela costuma aparecer logo ao amanhecer
em momentos nem um pouco especiais, simplesmente chega e fica ao meu lado
durante o dia, acompanhando os meus afazeres. Costuma me atrapalhar, paro de
fazer coisas e fico sentada pensando em nada especial, só prestando atenção no
vazio que sinto quando essa saudade companheira, como comecei a chama-la, está
presente.
Me sinto
presa em um quarto de hotel, no qual eu não me lembro de ter entrado e nem sei
como sair. Estou sozinha nesse quarto e nas paredes encontro lembranças de
momentos que não gostaria de relembrar. Algumas dessas lembranças, cheias de
alegrias e planos, planos esses que nunca foram colocados em prática e outras
lembranças trazem a tristeza da confiança quebrada, de uma verdade que não
existia e de um carinho que acabou, talvez sem motivo ou possivelmente com
vários deles.
Ao ver
essas paredes desbotadas com lembranças e cores ainda vivas percebo que essa
saudade tem sim um motivo, sinto saudade de conversas, confissões, momentos de
alegria, não com um amigo, mas com um companheiro. Lembro o quanto era fácil
falar o que eu pensava, dizer e fazer as coisas que eu queria só por você estar
próximo de mim, fico imaginando como seria se ainda fosse como antes. Continuo
andando por esse quarto de hotel, vendo as paredes, as lembranças felizes que vão
acabando e aparecem os momentos que gostaria de esquecer, então percebo que
aquela felicidade existiu, mas não teria mais como continuar, em algum momento
fomos para caminhos diferentes e nos desligamos, tornando essa realidade em que
vivo possível.
Não sou
mais como antes, e ser trazida a força pela saudade para esse quarto de hotel
mostra que algo em mim mudou. Sinto falta do romantismo, porém também sinto
medo. Sei que nada é fácil, que desapontamentos acontecem e que as lembranças
tristes que tenho não serão as últimas, mas existem momentos que ainda não sei
como lidar, existem várias coisas que preciso aprender.
Após
olhar todas as lembranças e ver cada momento da minha vida colocada em paredes
de um lugar que não conheço muito bem, mas que em cada momento que volto a ele
fica mais familiar, me deito no único móvel que existe no quarto, uma cama que
apesar das circunstâncias é bem confortável.
Fico
deitada na cama pensando em nada ou em tudo ao mesmo tempo, me sinto cansada,
parece que as lembranças saíram das paredes e estão todas em cima de mim. Aos
poucos meus olhos vão se fechando, entretanto antes que eles se fechem
totalmente, consigo ver pela janela desse quarto de hotel o pôr do sol mais
lindo que já vi na minha vida e seus raios tocam em minha pele e com eles
trazem tranquilidade me fazendo fechar os olhos e dormir um sono tranquilo.
Ao
acordar não estou mais no quarto de hotel com paredes desbotas com lembranças
decorando, estou em meu quarto e percebo que não tenho a companhia da saudade
dessa vez. Levanto-me, abro as janelas e talvez o dia não esteja tão lindo como
eu gostaria, mas me lembro do pôr do sol, do quarto de hotel, e percebo que ele
não me trouxe só a tranquilidade para dormir, mas também força, para levantar
caminhar e querer nunca mais voltar para aquele quarto onde as lembranças são
doloridas.
Talvez um
dia eu volte a visitar aquele quarto novamente, afinal já fui lá outras vezes,
porém enquanto eu não for, irei me apaixonar, viver, não terei medo, porque
aquele quarto sempre estará lá para lembrar sobre a tristeza e a saudade, mas a
felicidade só poderá ser lembrada por mim e por aquele lindo pôr do sol o
quanto eu posso ser feliz.
Vaisy Alencar Beserra
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