29 novembro 2016

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Hotel da saudade


As vezes acordo com saudade, que não sei bem do que. Ela costuma aparecer logo ao amanhecer em momentos nem um pouco especiais, simplesmente chega e fica ao meu lado durante o dia, acompanhando os meus afazeres. Costuma me atrapalhar, paro de fazer coisas e fico sentada pensando em nada especial, só prestando atenção no vazio que sinto quando essa saudade companheira, como comecei a chama-la, está presente.

Me sinto presa em um quarto de hotel, no qual eu não me lembro de ter entrado e nem sei como sair. Estou sozinha nesse quarto e nas paredes encontro lembranças de momentos que não gostaria de relembrar. Algumas dessas lembranças, cheias de alegrias e planos, planos esses que nunca foram colocados em prática e outras lembranças trazem a tristeza da confiança quebrada, de uma verdade que não existia e de um carinho que acabou, talvez sem motivo ou possivelmente com vários deles.

Ao ver essas paredes desbotadas com lembranças e cores ainda vivas percebo que essa saudade tem sim um motivo, sinto saudade de conversas, confissões, momentos de alegria, não com um amigo, mas com um companheiro. Lembro o quanto era fácil falar o que eu pensava, dizer e fazer as coisas que eu queria só por você estar próximo de mim, fico imaginando como seria se ainda fosse como antes. Continuo andando por esse quarto de hotel, vendo as paredes, as lembranças felizes que vão acabando e aparecem os momentos que gostaria de esquecer, então percebo que aquela felicidade existiu, mas não teria mais como continuar, em algum momento fomos para caminhos diferentes e nos desligamos, tornando essa realidade em que vivo possível.

Não sou mais como antes, e ser trazida a força pela saudade para esse quarto de hotel mostra que algo em mim mudou. Sinto falta do romantismo, porém também sinto medo. Sei que nada é fácil, que desapontamentos acontecem e que as lembranças tristes que tenho não serão as últimas, mas existem momentos que ainda não sei como lidar, existem várias coisas que preciso aprender.

Após olhar todas as lembranças e ver cada momento da minha vida colocada em paredes de um lugar que não conheço muito bem, mas que em cada momento que volto a ele fica mais familiar, me deito no único móvel que existe no quarto, uma cama que apesar das circunstâncias é bem confortável.
Fico deitada na cama pensando em nada ou em tudo ao mesmo tempo, me sinto cansada, parece que as lembranças saíram das paredes e estão todas em cima de mim. Aos poucos meus olhos vão se fechando, entretanto antes que eles se fechem totalmente, consigo ver pela janela desse quarto de hotel o pôr do sol mais lindo que já vi na minha vida e seus raios tocam em minha pele e com eles trazem tranquilidade me fazendo fechar os olhos e dormir um sono tranquilo.

Ao acordar não estou mais no quarto de hotel com paredes desbotas com lembranças decorando, estou em meu quarto e percebo que não tenho a companhia da saudade dessa vez. Levanto-me, abro as janelas e talvez o dia não esteja tão lindo como eu gostaria, mas me lembro do pôr do sol, do quarto de hotel, e percebo que ele não me trouxe só a tranquilidade para dormir, mas também força, para levantar caminhar e querer nunca mais voltar para aquele quarto onde as lembranças são doloridas.

Talvez um dia eu volte a visitar aquele quarto novamente, afinal já fui lá outras vezes, porém enquanto eu não for, irei me apaixonar, viver, não terei medo, porque aquele quarto sempre estará lá para lembrar sobre a tristeza e a saudade, mas a felicidade só poderá ser lembrada por mim e por aquele lindo pôr do sol o quanto eu posso ser feliz. 
Vaisy Alencar Beserra

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